Análise


Criptoworld – Ed.03.24

Foto Gabi

Gabriela Joubert

Publicado 19/abr

Macro e Crypto colidem

A aversão ao risco tomou conta do cenário internacional, conforme os investidores passaram a questionar se o FED realmente conseguirá entregar os cortes de juros previstos para este ano. A inflação voltou a subir, a escalada dos conflitos no Oriente Médio voltou a preocupar e, com isso, os juros futuros avançaram, estressando as demais classes de ativos globais.

Os mercados passaram a precificar a possibilidade de termos juros mais altos por mais tempo na economia norte-americana. Essa possibilidade gerou um efeito de busca acelerada por ativos de maior qualidade, reduzindo a liquidez no mundo, uma vez que as Treasuries americanas são consideradas ativos livres de risco. E com os criptoativos não foi diferente. Com base no gráfico, podemos ver que o preço do Bitcoin tem uma forte correlação com a liquidez global. Quando a liquidez aumenta, como visto no final de 2020 e início de 2021, o preço do Bitcoin dispara, atingindo máximas históricas. Por outro lado, quando a liquidez global desacelera, como ocorreu em 2022, o preço do Bitcoin sofre quedas significativas. Nestas últimas semanas, com a curva de juros avançando, as Treasuries norte-americanas voltaram a fazer jus ao seu apelido de "buraco negro da liquidez global".

Contudo, lembramos que o forte desempenho do Bitcoin nos últimos anos, com valorização de 50% em 2024 e atingindo máximas históricas acima de $73.000 em março, foi impulsionado em grande parte pela aprovação de ETFs de Bitcoin nos EUA, que trouxeram maior liquidez e acesso de investidores institucionais ao mercado. Outro evento importante que terá impacto na dinâmica de oferta e demanda do Bitcoin é o halving, previsto para ocorrer entre 19 e 20 de abril. Nesse processo, as recompensas dos mineradores são reduzidas pela metade, desacelerando a taxa de crescimento da oferta de Bitcoins. Historicamente, os halvings precederam movimentos de alta expressiva no preço. É importante ressaltar que o impacto na oferta não é imediato, levando um certo tempo para se refletir no mercado. Alguns analistas projetma que o preço do Bitcoin possa recuar após o halving, uma vez que o mercado ainda estaria em condições de sobrecompra e acima de métricas como o custo de produção e a comparação ajustada pela volatilidade com o ouro.

Números de Mercado

Nesta semana, o mercado de criptoativos apresentou uma correção considerável, com o Market Cap. totalizando US$ 2,34 trilhões, queda de 9,3% em relação à semana anterior. O TVL em DeFi encerrou o período com uma redução de 13,55%, atingindo US$ 151,714 bilhões. O Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH) registraram perdas de 6,76% e 10,21%, respectivamente, fechando a semana em US$ 64.614,25 e US$ 3.088,71. Chainlink (LINK) foi o destaque negativo, com uma queda expressiva de 18,55%, encerrando a semana em US$ 13,93. Solana (SOL) também apresentou um desempenho desfavorável, caindo 12,69% e fechando a semana em US$ 146,02. A dominância do Bitcoin subiu 2,4%, atingindo 54,18%, indicando uma maior aversão ao risco por parte dos investidores, que buscaram refúgio no principal ativo do mercado em detrimento das altcoins.

Mercado brasileiro já conta com contrato futuro de bitcoin

A B3 lançou o contrato futuro de bitcoin, um novo instrumento derivativo que permite aos investidores negociar a expectativa do preço do ativo em uma data futura, sem a necessidade de possuí-lo. Com valor equivalente a 10% do preço do bitcoin em reais, o contrato futuro oferece exposição alavancada e flexibilidade para estratégias especulativas e de proteção, atraindo investidores institucionais e de varejo familiarizados com derivativos. (link da notícia)

Bacen indica que solução de privacidade para o Drex ainda não estará pronta em 2024

O coordenador do projeto Drex no Banco Central, Fabio Araujo, afirmou que as soluções de privacidade para a versão tokenizada do real estarão mais amadurecidas até meados de 2024, porém ainda não prontas para produção. Os consórcios participantes estão testando diferentes alternativas, como Zether, Starlight e Parchain, visando escolher a melhor opção. Um relatório sobre os resultados desta primeira fase de testes será divulgado ao final do primeiro semestre. Apesar dos desafios, Fábio Araújo acredita que há caminhos para avançar com a infraestrutura e que o Drex facilitará o acesso da população a diferentes modalidades de investimento. (link da notícia)

Banco do Brasil entre os principais investidores institucionais do ETF de bitcoin da BlackRock

O Banco do Brasil é o oitavo maior investidor institucional do ETF de bitcoin lançado pela BlackRock em janeiro de 2024, com um aporte de US$ 1,59 milhão realizado através do fundo BB Multimercado Criptoativos Full. Apesar da participação institucional ainda ser relativamente baixa, representando apenas 0,2% do total de cotistas, analistas preveem um crescimento significativo desse tipo de investidor no futuro, seguindo a tendência observada em outros ETFs de criptoativos, como o da ProShares, que possui 42% das suas cotas em posse de investidores institucionais.(link da notícia)

Worldcoin lança blockchain próprio visando identidade digital global

A Worldcoin, projeto liderado por Sam Altman, CEO da OpenAI, anunciou o lançamento de seu próprio blockchain, o World Chain, com o objetivo de criar uma identidade digital global e priorizar transações realizadas por humanos verificados através da World ID. A rede, baseada na Ethereum, busca aumentar a eficiência e utilidade de projetos Web3, oferecendo uma abordagem centrada no usuário e recompensando-os com a criptomoeda nativa WLD. O lançamento está previsto para o quarto trimestre de 2024, com uma versão de testes para desenvolvedores disponível em breve. (link da notícia)

Tether lança USDT na rede TON e carteira digital do Telegram

A Tether, em parceria com o Telegram, anunciou o lançamento do USDT, a maior stablecoin do mundo, na rede The Open Network (TON) e na carteira do Telegram. Essa integração visa expandir rapidamente a atratividade do TON para um público mais amplo de usuários do Telegram que não são especialistas em criptomoedas, além de acelerar o crescimento da própria blockchain TON. Com a entrada do USDT, espera-se um aumento significativo na adoção e no desenvolvimento de aplicativos na rede, atraindo novos usuários para o ecossistema cripto através da base massiva de usuários do Telegram. (link da notícia)

SEC Reforça Jurisdição sobre Justin Sun em Processo por violações no Mercado Cripto

A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) apresentou uma queixa emendada em seu processo contra o fundador da Tron, Justin Sun, argumentando que o caso se enquadra na jurisdição do país devido às extensas viagens de Sun aos EUA entre 2017 e 2019. A SEC acusa Sun e suas empresas de oferecer valores mobiliários não registrados na forma das criptomoedas Tronix (TRX) e BitTorrent (BTT), além de manipular o mercado secundário de TRX por meio de "wash trading" e orquestrar um esquema para pagar celebridades para promover TRX e BTT sem divulgar sua compensação. Sun nega veementemente as alegações e busca a rejeição do processo. (link da notícia)

Glossário

  • TVL (Total Value Locked): métrica que representa o valor total de ativos depositados e bloqueados em protocolos descentralizados de finanças (DeFi) e outros aplicativos baseados em blockchain.
  • Halving: evento programado no protocolo do Bitcoin que reduz pela metade a recompensa de mineração a cada 210.000 blocos minerados, o que ocorre aproximadamente a cada 4 anos. O halving é um mecanismo deflacionário que controla a emissão de novos bitcoins e contribui para a escassez e valorização da criptomoeda a longo prazo.
  • Altcoins: termo que engloba todas as criptomoedas e tokens alternativos ao Bitcoin. As altcoins abrangem uma ampla gama de projetos com diferentes propósitos, tecnologias e casos de uso, como Ethereum, Solana, Cardano, entre outras.
  • DeFi (Decentralized Finance): ecossistema de aplicativos e protocolos financeiros construídos sobre redes blockchain, principalmente Ethereum, que buscam oferecer serviços financeiros de forma descentralizada. O DeFi engloba uma serviços como empréstimos, negociação de ativos, gestão de portfólio e seguros.
  • Trilema das Blockchains: refere-se ao desafio de equilibrar segurança, descentralização e escalabilidade em uma rede blockchain. A Ethereum prioriza segurança e descentralização na camada base, enquanto aborda a escalabilidade através de soluções de segunda camada, como rollups e sidechains. Por outro lado, o Bitcoin, com seu foco principal em ser uma reserva de valor e meio de troca descentralizado, prioriza a segurança e a descentralização, mesmo que isso limite sua escalabilidade e velocidade de transação. Já a Solana adota uma abordagem diferente, priorizando a escalabilidade e a velocidade de transação, maximizando as transações por segundo na camada base. Essa ênfase na escalabilidade pode envolver certos compromissos em termos de descentralização e segurança em comparação com redes como Ethereum e Bitcoin.
  • Rollups e Blockchains de Segunda Camada: soluções de escalabilidade que buscam aumentar a capacidade de processamento de transações e reduzir as taxas em redes blockchain. Os rollupsagrupam várias transações em uma única transação na blockchain principal, enquanto as blockchains de segunda camada são redes separadas que operam em paralelo à blockchain principal, permitindo transações mais rápidas e baratas.
  • Blobs da Ethereum: "Blobs" (binary large object), um novo tipo de transação que permite armazenar grandes quantidades de dados de forma mais eficiente. Essa melhoria visa reduzir os custos de armazenamento e aumentar a escalabilidade da rede, especialmente para aplicativos e blockchains de segunda camada que requerem o armazenamento de grandes volumes de dados, como NFTs e contratos inteligentes complexos, transações comprimidas (no caso dos rollups).

Compartilhe essa notícia

Notícias Relacionadas

Receba nossas análises por e-mail