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Análise | Juros nos EUA | Jun22

Daniel_Arruda

Daniel Arruda

Publicado 15/jun

FED eleva juros em 0,75 p.p.

Com isso, a taxa de juros americana alcançou o intervalo entre 1,5% e 1,75%. Esse movimento pode ser visto como hawkish, uma vez que a autoridade acelerou o ritmo de contração monetária em relação à sinalização de 0,5 p.p. dada anteriormente. A opção por intensificar o ritmo de alta vem logo após o forte aumento dos juros de dois anos, que passaram de 2,8% para 3,4% dentro de poucos dias.

O que causou a reversão do comportamento do FED?

Desde a última reunião, dois dados principais tiveram relevância para a tomada de decisão do Banco Central. Em primeiro lugar, a inflação ao consumidor, que alcançou 1,0% em maio, ficou muito acima da expectativa mediana do mercado. Além do número elevado, o núcleo de inflação alcançou 7,8% em termos anualizados, bem acima da meta de 2,0%. De fato, a projeção de inflação do FED, medida pelo PCE, subiu de 4,3% em março para 5,2% nessa reunião.

Outra divulgação importante foi a pesquisa do sentimento do consumidor da Universidade de Michigan. Em particular, a expectativa de inflação dos consumidores para os próximos 5 anos saltou para 3,3%, patamar substancialmente acima da meta de longo prazo. Dessa forma, o risco de a desancoragem das expectativas contaminar a inflação corrente pode ter levado o FED ao movimento mais intenso sobre a taxa básica de juros.

Projeções do comitê mostram atividade mais fraca e juros mais altos

O FED fez significativa revisão na sua expectativa de crescimento do PIB para 2022, de 2,8% para 1,7%. Para 2023, a correção foi de 2,2% para 1,7%. Nesse cenário, a economia americana deverá avançar em ritmo inferior ao potencial pelos próximos dois anos. Por consequência, a taxa de desemprego também foi corrigida para cima, e pode alcançar 3,7% em 2022 e 3,9% em 2023. Ademais, a mediana dos juros vistos como adequados pelos membros do comitê avançou para 3,4% ainda nesse ano, ante projeção anterior de 1,9%, e deve se manter em patamar contracionista até 2024, atingindo um pico de 3,8% em 2023. Segundo o comitê, essa resposta de política monetária é suficiente para trazer o núcleo de inflação para cerca de 2,6% já no próximo ano.

O cenário disponibilizado ainda ilustra a possibilidade de trazer a inflação de volta para a meta sem causar uma recessão na economia americana. No entanto, vale questionar se uma taxa de desemprego ainda ligeiramente abaixo do neutro (4,0%) será suficiente para desacelerar a inflação do nível atual para o patamar de 2,0%. Ainda que a reversão prospectiva dos preços de commodities ou a normalização dos gargalos de oferta possam trazer alívio para a inflação, o FED poderá seguir observando uma aceleração de preços mais persistente no setor de serviços, o que levaria a autoridade monetária a atuar de forma mais firme para conter a demanda e poderia gerar riscos para a atividade econômica mais significativos do que sugerem os números apresentados.

Até onde vão os juros americanos?

Conforme sinalizado pelo Presidente do FED na coletiva de imprensa, a próxima reunião deve trazer nova alta entre 0,5 p.p. e 0,75 p.p., a depender da evolução dos indicadores econômicos. Em particular, serão importantes as próximas leituras de inflação ao consumidor e a evolução das expectativas.

Tomando a expectativa mediana atual do comitê como um cenário otimista, as projeções mais extremas podem trazer um quadro mais realista para os próximos anos. Sob essa hipótese, a taxa de juros alcançaria um limite superior de 4,0% em 2022 e 4,5% em 2023. Ainda que nenhum dos membros projete retração do PIB nos próximos anos, o crescimento poderia desacelerar ao patamar de 1,0%, levando a taxa de desemprego a nível próximo de 4,5%. Para além dos impactos na economia real, o nível maior de contração ainda pode resultar em novo impacto negativo nos mercados financeiros.


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