Análise


Atividade | Janeiro 2024

foto Média

Luana Bretas

Publicado 15/mar6 min de leitura

Atividade forte em janeiro

Produção industrial inicia o ano com queda de -1,6%, comércio varejista avança 2,5% e serviços crescem 0,7%. A queda da indústria no mês já era esperada, enquanto varejo e serviços surpreenderam positivamente. O ano se inicia com atividade forte, contrastando com a confiança do consumidor em queda, com famílias pessimistas tanto com suas finanças como com as perspectivas futuras da conjuntura econômica. Contudo, o resultado deve ser analisado à luz da sazonalidade de início de ano juntamente com o recente ajuste do salário-mínimo acima da inflação, sendo ainda cedo para tirar conclusões sobre a dinâmica de crescimento para 2024.

Produção industrial recua 1,6% em janeiro

O resultado veio praticamente em linha com a expectativa, que era uma queda de -1,7%, depois de uma alta surpresa no último mês de 2023. Apesar da queda, a variação comparada com janeiro do ano anterior subiu 3,6%. Com isso, o acumulado em 12 meses está em 0,4% e a média móvel trimestral em 0,2%.

A difusão teve uma alta expressiva, de 56% em dezembro para 72% nesse mês, com 18 atividades apontando expansão na produção. Do lado positivo, a principal contribuição veio de indústria química, com crescimento de 7,9% no mês adicionando 0,59 p.p. no resultado, seguido de equipamentos eletrônicos (13,7% e 0,28 p.p.) e máquinas (6,4% e 0,25 p.p.). Já do lado negativo a indústria extrativa foi a com maior impacto, com queda de 6,3% retirando 0,92 p.p. do resultado cheio. Lembrando que indústria extrativa foi um dos destaques do PIB de 2023, crescendo 8,7% devido, principalmente, à alta na extração de petróleo e gás natural e de minério de ferro. Alimentícios e Vestuário foram as outras principais contribuições negativas, com queda de 5% e 6,4%, retirando 0,75p.p. e 0,13 p.p. respectivamente.

Entre as grandes categorias econômicas, o destaque foram os bens de capital que apresentaram crescimento de 5,2% após uma sequência de quedas nos últimos 4 meses. No acumulado em 12 meses, no entanto, o grupo apresenta queda de -10,6%, uma melhora frente ao resultado de dezembro (-11,1%) e no ano apresentou alta de 0,4% frente a queda de 11,1% em janeiro de 2023. O grupo é o único que apresenta variação negativa, refletindo a queda do investimento no país, que caiu 3% no ano e se faz necessário para um crescimento sustentável da economia. Os bens de consumo duráveis também cresceram no mês (1,4%) enquanto os bens intermediários e de consumo semi e não duráveis apresentaram queda (-2,4% e -1%).

Vale mencionar que o IBGE revisou os dados da PIM de dezembro de 2023, indo de um crescimento de 1,1% no mês para 1,6%, com maior crescimento dos bens intermediários (de 1,3% para 1,9%) e uma queda menor que a registrada anteriormente para os bens de capital (de -1,2% para -0,8%).

A confiança na indústria permanece estável em fevereiro após 4 meses consecutivos de alta. De modo geral, os dados da FGV indicam expectativas mais cautelosas em relação à produção e ao ambiente de negócios no futuro, com acomodação da confiança após um período de melhora da demanda e normalização dos estoques.

Vendas no varejo surpreendem em janeiro

O volume de vendas no comércio varejista cresceu 2,5% em janeiro na série com ajuste sazonal, bem acima da expectativa do mercado de 0,2% e após queda de -1,4% em dezembro. O índice acumula crescimento de 1,8% nos últimos 12 meses, com avanço de 4,1% em relação a janeiro do ano passado e a média móvel trimestral variou 0,4%.

Entre as 8 atividades pesquisadas, 5 apresentaram alta. Os maiores impactos positivos vieram de Vestuário (8,5% e 0,53 p.p.), Uso Pessoal (5,2% e 0,5p.p.) e Supermercados (0,9% e 0,49 p.p.). Apesar da alta no mês, Vestuários e Artigos de uso pessoal acumulam queda em 12 meses de -4,7% e -10,5%, respectivamente. A maior queda no mês veio de Artigos de livrarias (-3,6%), mas Produtos Farmacêuticos foram a principal contribuição negativa, com queda -1,1% de retirando 0,1 p.p. do resultado.

No comércio varejista ampliado, que inclui itens mais cíclicos como veículos e materiais de construção, o crescimento foi de 2,4% no mês, acumulando alta de 2,9% nos últimos 12 meses e 6,8% no ano, com o melhor desempenho de janeiro nos últimos 12 anos. Veículos tiveram grande impacto, acrescentando 0,47 p.p. com crescimento de 8,5% no mês após uma queda de 4,5% em dezembro, acumulando alta de 8,7% nos últimos 12 meses, em linha com o crescimento do crédito para concessão de veículos que avançou 16% no mês de janeiro.

O aumento do salário-mínimo acima da inflação e o pagamento de precatórios concentrado entre janeiro e fevereiro podem ter contribuído para o crescimento do comércio. A sensibilidade do crescimento, contudo, foi maior com relação ao crédito (2,43%) do que à renda (1,34%), refletindo o resultado de início de reversão da tendência negativa do crédito agora com o ciclo da queda de juros. Portanto, à medida que a política monetária continue flexibilizando, podemos ver uma melhora no varejo com a maior disponibilidade de crédito. Com o resultado, o comércio passa a operar 5,7% acima do patamar pré-pandemia.

Contudo, apesar do desempenho positivo surpreendente, ainda é cedo para afirmar sobre algum impulso do comércio para esse ano. Os responsáveis pela PMC apontaram para uma possível alteração do padrão do comércio, com consumidores esperando pelas promoções mais frequentes de início de ano e adiando seu consumo de dezembro para janeiro. Além disso, os dados de confiança do comércio da FGV apontaram queda, com uma reavaliação das perspectivas para os próximos meses e uma alta proporção de empresas de setores cíclicos da economia alegando empecilho de expansão dos negócios devido a demanda insuficiente. O endividamento das famílias ainda segue alto, apesar de uma reversão da tendência de crescimento. Além disso, a Pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou maior preocupação das famílias em organizar seu orçamento, colocando o consumo em segundo plano.

Volume de serviços avança 0,7% em janeiro

Outro resultado que surpreende o mercado, cuja expectativa era de queda de -0,4%. Com isso, o acumulado em 12 meses que havia apresentando dinâmica de desaceleração permaneceu estável em 2,4%. Comparado a janeiro de 2023, o crescimento do setor foi de 4,5%, o mais intenso desde maio de 2023, e a média móvel trimestral teve expansão de 0,6%.

O avanço foi disseminado entre 4 das 5 atividades pesquisadas. O maior impacto positivo veio de Informação e Comunicação, com crescimento de 1,5% no mês, adicionando 0,35 p.p. no resultado. A única queda registrada foi em Serviços prestados às Famílias (-2,7%), que contribuiu para uma redução de 0,22 p.p. Apesar da queda acentuada no mês, serviços às famílias acumulam crescimento de 4,2% em 12 meses, menor que o registrado em dezembro (4,8%). Já o crescimento acumulado em 12 meses em Informação e comunicação cresceu de 3,5% para 3,7%. O único setor que acumula queda são os Outros serviços (-1,5%).

Dentro de Informação e comunicação, o grupo de Audiovisuais expandiu 27,6% no mês, ante queda de -6,5% em dezembro, acumulando alta de 14,1% no ano, enquanto Telecomunicações variou 0,2%, com crescimento acumulado de 5,9%. Já em Serviços prestados às Famílias, Alojamento e Alimentação caiu -3,7% no mês após alta de 5,4% em dezembro, com alta acumulada de 4% no ano, e os Outros serviços prestados às famílias cresceram 2,8% no mês, com acúmulo de crescimento anual de 3,1%. A taxa de inflação acumulada em 12 meses foi mais alta apenas para Informação e Comunicação (de 1,7% para 1,9%), e Serviços às Famílias apresentam a maior taxa (6,3%).

O grupo de Transportes cresceu 0,7% no mês, acrescentando 0,25 p.p. no resultado, com desempenho de 2,94% para Transporte de Passageiros, reduzindo a queda acumulada em 12 meses de -1,34% para -0,55%, enquanto Transporte de Cargas variou 0,59% no mês.

Dado o desempenho dos grupos, vemos um crescimento mais focado no lado da oferta, com os serviços prestados às famílias sendo o único grupo com resultado negativo. Entretanto, há uma questão sazonal, pois em dezembro esse grupo tende a registrar alta, o que gera um efeito base negativo para o mês de janeiro, além do fato de em janeiro haver muita concentração de gastos obrigatórios às famílias, o que reduz a renda disponível.

Em contraste com o crescimento, a confiança para o setor de serviços em fevereiro está pior, refletindo uma cautela por parte dos empresários após iniciarem o ano com confiança mais alta. Contudo, a demanda continua resiliente e o setor não deve sofrer danos com a atual conjuntura de queda das taxas de juros e mercado de trabalho resiliente. Ainda assim, permanece a incerteza e cautela no ambiente de negócios.


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