Análise


COPOM Março 2024

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André Valério

Publicado 20/mar5 min de leitura

Copom reduz a Selic em 0,50 p.p. para 10,75%

O Copom cortou a Selic em 0,50 p.p., em linha com a expectativa, e manteve a indicação de pelo menos mais um corte de 50 pb na próxima reunião. O destaque foi a retirada do plural sobre os próximos passos que acompanhava os últimos comunicados. Tal fraseamento estava sendo encarado como um forward guidance e, com o aumento da incerteza sobre a trajetória da inflação, o Copom decidiu não manter esse compromisso de cortes futuros, além da próxima reunião em maio, na mesma magnitude. O comitê, portanto, parece ter adotado o meio termo, indicando a magnitude de corte apenas para a reunião subsequente e deixando em aberto os passos seguintes, a depender da evolução do cenário.

Sem muita novidade, o Copom manteve o tom de cautela na avaliação de cenário. O Comitê avalia que o cenário doméstico se desenvolve em linha com o esperado, com exceção da inflação subjacente, que se mantém acima da meta. No âmbito externo, o Comitê ressalta que o ambiente segue volátil, o que enseja cautela por parte de países emergentes. As projeções do Copom para a inflação de 2024 e 2025, reduziram frente ao último comunicado. Para 2024, a expectativa é de alta de 3,5% (ante 3,8%) e para 2025 uma alta de 3,2% (ante 3,5%). Nesse cenário, mantém o caminho aberto para a continuidade do ciclo de cortes no atual ritmo, adiando a discussão sobre desaceleração do ritmo para, provavelmente, o final do 1o semestre.

O balanço de riscos é essencialmente o mesmo, com destaque para a maior persistência das pressões inflacionárias globais e maior resiliência da inflação de serviços como riscos de alta, enquanto o Comitê enxerga uma desaceleração econômica global mais acentuada que o esperado e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O comunicado também manteve de fora do balanço de riscos a discussão fiscal. No entanto, o Copom ainda ressalta a importância da execução da meta – já estabelecida – na ancoragem das expectativas.

Retirada do plural indica decisão reunião a reunião

O Copom manteve a indicação de mais um corte de 50 pb na próxima reunião, mas retirou o plural que constava nos últimos comunicados. Nesse sentido, pode-se ler o comunicado com um tom um pouco mais hawkish. Mantemos nossa expectativa de cortes de 50 p.b até a reunião de junho, quando esperamos que o Copom reduza o ritmo de cortes para 25 p.b por reunião. Entretanto, isto está condicionada à continuidade do processo de desinflação em linha com o nosso cenário base, que prevê um IPCA de 3,9% ao fim de 2024.

FOMC mantém juros inalterados

Como esperado, o FOMC manteve os juros no atual patamar. O comunicado pós-decisão veio sem grandes alterações. A mais notável foi na parte referente ao mercado de trabalho. Em janeiro, o comunicado dizia que “o mercado de trabalho se tornou consideravelmente mais moderado nos últimos meses, mas se mantendo apertado”. No comunicado de hoje, essa frase foi substituída por apenas uma menção de que o mercado de trabalho se mantém forte, o que sugere que o mercado de trabalho não esteja desacelerando na velocidade desejada pelo comitê. De fato, Powell deixa claro que eles desejam ver um mercado de trabalho menos forte para ter maior confiança sobre a convergência da inflação. O discurso continua sendo de que eles desejam ver dados benignos de inflação e mercado de trabalho para ter maior confiança e assim iniciar o ciclo de afrouxamento. Entretanto, os dados divulgados até aqui não foram suficientes para elevar tal confiança.

Projeções dos membros do FOMC ainda indicam 3 cortes para esse ano. De modo geral, as projeções não apresentaram grandes mudanças. Ainda projetam 3 cortes para esse ano, mantendo a porta aberta para o corte em junho, com a dispersão entre os membros diminuindo consideravelmente. Entretanto, as projeções para as taxas de juros nos outros períodos aumentaram, incluindo a de longo prazo, que variou na margem de 2,5% para 2,6%, o que abre espaço para uma discussão sobre a taxa neutra enxergada pelo Fed. A revisão mais significativa foi em relação ao ritmo de crescimento da economia americana, com os membros alterando a projeção de crescimento para esse ano de 1,4% para 2,1%. A manutenção de 3 cortes para 2024 ao mesmo tempo em que as projeções de inflação e atividade aumentam sugere que o Fed crê em um cenário de goldilocks, o que deve permitir com que o rally do mercado continue. A decisão do FOMC parece ter sido bem recebida pelo mercado, com o S&P 500 fechando em alta de 0,89%.

Acreditamos que o início do ciclo de cortes ocorrerá na reunião de junho. Entretanto, a quantidade de cortes em 2024 ainda é incerta. Apesar das projeções do FOMC ainda serem consistentes com 3 cortes esse ano, é notável que os membros antecipam uma convergência da inflação mais lenta. Portanto, sem uma desaceleração da atividade e, consequentemente, do mercado de trabalho e o retorno de um perfil inflacionário mais benigno, o FOMC terá uma janela curta para realizar os cortes, podendo entregar menos que os 3 cortes implícitos até o momento.


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