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Inter Strategy - Mar22

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Mário Corrêa

Publicado 04/mar

Mercados Globais

A invasão da Ucrânia pela Rússia gerou enorme impacto nos mercados, com destaque para a elevação do petróleo

O início do conflito armado na Ucrânia teve grande impacto em todos os mercados e as consequências econômicas vão depender da duração e como será encerrado, mas sem duvidas, a maior preocupação no momento é a inflação. O petróleo teve forte alta na última semana e chega a ser cotado em $110/barril, +20% em uma semana e já acumula +40% em relação a dezembro de 2021. A Rússia é o 2o maior produtor e exportador de petróleo no mundo, atendendo principalmente os mercados na China e Europa. Não somente pelas sanções, mas também a logística na Europa pode ficar afetada, causando novos choques de oferta e encarecimento de matérias primas industriais.

O cenário de maior aversão a risco também resultou em maior volatilidade, o Vix teve alta de % na semana, e as taxas de juros dos títulos globais voltaram a ter queda, mesmo com o risco de maior inflação devido a potencial nova alta de custos das matérias primas.

Sanções à Rússia

As sanções impostas à Rússia, bem como o anúncio de retirada de investimentos privados resultaram em forte deterioração dos indicadores no país

Entre as sanções impostas à Rússia, as mais significativas foram o congelamento das reservas internacionais e a exclusão dos bancos russos do meio de pagamento interbancário Swift. Sem acesso às suas reservas, ativos investidos no exterior, e com restrições de conversão da moeda local em dólares, o default dos títulos russos é iminente. Além disso, várias empresas multinacionais estão cancelando investimentos e atividades no país, o que pode significar uma queda significativa do PIB russo. Os sinais de stress no mercado russo podem ser vistos pela desvalorização da moeda em mais de 30% em uma semana, queda do índice MSCI Rússia em mais de 75% e pelos títulos do governo que são negociados a 20% do valor de face.

Caso o conflito se estenda por um período mais longo, as restrições ao comercio global podem resultar em desaceleração da economia, e eventualmente não descartamos uma recessão global.

EUA

A inflação também é o principal risco da economia americana e as condições globais devem dificultar o processo de aperto monetário pelo Fed

No EUA, o S&P teve queda de 5,5% em fevereiro e o Nasdaq 9,1%, e já nesse começo de março sofrem nova queda de cerca de 4%. Em fevereiro, tivemos dados positivos e surpreendentes tanto do mercado de trabalho como do varejo e da indústria, mostrando forte recuperação da economia com a redução da contaminação pela variante Omicron. O Fed mudou o tom e alerta para o risco de inflação, preparando para iniciar o ciclo de alta de juros em março, mas ainda sem definição do ritmo, 25 ou 50 bps. As novas incertezas globais trazem novo desafio para a autoridade monetária, que tende a manter um discurso mais dovish, uma vez que a piora das condições financeiras podem impor ao Fed um ritmo mais lento de alta, ao mesmo tempo que a elevação das commodities vai resultar em inflação mais alta por mais tempo. A taxa de juros dos títulos de 10 anos, que chegou a ultrapassar 2% em fevereiro, voltou para o patamar de 1,8%, e nos títulos mais curtos, a expectativa de 7 altas no Fed Fund Rate no ano foi reduzida para 5. A taxa de juros nos EUA irá caminhar para 2,5%, mas de maneira mais lenta, e a inflação mais persistente pode ser um risco ainda maior nos próximos ano.

Commodities e Emergentes

Apesar de dependência menor do comércio com a Rússia, os países emergentes também devem sofrer o impacto das restrições ao comércio global e aumento da inflação

A alta das commodities deve continuar propagando mais inflação entre os países emergentes. Por serem importantes exportadores de matérias primas, muitos emergentes ainda devem ser favorecidos pela balança comercial mais robusta e, mesmo com a maior aversão a risco, as moedas não sofrem desvalorização nesse primeiro momento. Além disso, a atuação dos bancos centrais tem sido mais enérgica e os juros já tiveram significativas altas nos últimos meses.

Cenário Doméstico

No Brasil, dados de atividade e inflação vieram acima da expectativa, mostrando certa resiliência frente a alta de juros

Entre os dados de atividade divulgados no ultimo mês, o desempenho do setor de serviços foi o destaque positivo e resultou em uma revisão de expectativa para o PIB do 4o trimestre para positivo e esperamos que encerre o ano com crescimento de 4,6%. Por outro lado, mesmo antes de qualquer reajuste da gasolina, o IPCA se mantém elevado e a prévia em fevereiro aponta para alta de 0,99%, bem acima da expectativa. Os reajustes em serviços, principalmente educação, e a recente alta dos alimentos tem mantido a inflação mais elevada no Brasil, apesar do significativo aperto monetário. Esse receio de inflação mais persistente resultou em uma nova abertura nas taxas de juros pré fixadas principalmente nos vértices médios. O tom mais preocupado do COPOM indica que o ciclo de aperto monetário deve ir além de março e pode chegar a 12,25%, agora com novas incertezas devido aos impactos dos novos choques.

Bolsa Brasil

Em conjunto com o câmbio, bolsa brasileira apresenta fevereiro positivo, retirando parte do desconto em ativos locais.

Fevereiro foi marcado pela escalada dos conflitos entre Rússia e Ucrânia que culminou com o ataque russo e início de uma guerra, trazendo ainda mais incertezas a um cenário ainda conturbado pelos impactos de um início de ciclo contracionista, bem com pressões inflacionárias que insistem em ficar. Assim, as empresas de commodities foram mais uma vez destaque, beneficiadas não apenas pelo cenário externo de preços mais favorável, mas também pela divulgação de resultados referente à temporada de balanços do 4T21. Em especial, as blue chips tiveram um ano de entregas robustas, o que se refletiu no valor de suas ações que tiveram forte alta no período. Ressaltamos também o desempenho das companhias no setor de Utilities que, com o cenário mais adverso, acabam sendo beneficiadas pela busca por ativos mais defensivos, levando o subíndice UTIL a avançar cerca de 3% no mês.

Março inicia com grandes incertezas e ainda mais volatilidade. Mercados aguardam novos desdobramentos quanto à guerra na Ucrânia e as sanções aplicadas à Rússia, não apenas na esfera governamental (como esperado), mas também no campo corporativo, com empresas encerrando negócios no país. Os preços das commodities devem seguir avançando. A temporada de balanços continua, com foco agora para o setor de Consumo, com grandes varejistas, shoppings e demais divulgando seus resultados.

Fundos Multimercado

Multimercados apresentam fevereiro no positivo, mas são pegos de surpresa pelo conflito entre Ucrânia e Rússia

Em fevereiro, multimercados chegaram a apresentar alta de 0,7% até a metade do mês, no entanto, a deterioração do conflito na Ucrânia e alta dos juros americanos fez com que aqueles fundos mais alocados em bolsas internacionais tivessem desvalorização de suas cotas na segunda metade do mês. Dentre as classificações, Macro e Juros e Moeda apresentaram as melhores performances, apostando na força do dólar frente outras moedas, favorecida pelo aumento de diferencial de juros entre EUA e outros desenvolvidos e fechamento dos spreads de crédito.

Câmbio

Real tem nova valorização em fevereiro de 3%, acumulando 7,6% no ano

Em fevereiro, real ganhou força frente à maioria das moedas diante de cenário internacional conturbado e cenário interno sem grandes mudanças, revertendo parte da depreciação acentuada desde o início da pandemia e acumulando alta de 8,3% desde o início do ano. A valorização da moeda local foi de 3%, uma das melhores no mês dentre os emergentes, indo na direção oposta da maioria dos pares frente ao dólar, tendo em vista alta dos juros longos nos EUA, que deu força ao DXY, índice que mede a força da moeda norte americana internacionalmente. O maior diferencial de juros entre EUA e Europa fez com que houvesse saída de capital do continente europeu, que já apresenta fluxo financeiro fraco desde a implementação dos juros negativos em alguns dos seus países.

Em fevereiro, a pior performance foi da moeda russa, com desvalorização de 30,6%, mesmo após alta na taxa básica de juro de 9,5% para 20%.

Fundos Imobiliários

Após o rali de dezembro, fundos imobiliários permanecem em consolidação

Com queda acumulada de -1,7% no ano, o IFIX mantém ritmo correção às alta registradas em dezembro de 2021. O cenário segue cauteloso diante de preocupações com possível extensão do ciclo de contração monetária e persistência de alta da inflação.

Passado o estresse em relação aos questionamentos da CVM quanto às regras para distribuição dos dividendos, as perspectivas para o segmento de FIIs em 2022 são positivas, tanto em termos de apreciação de capital quanto em yield dos proventos, que está em média, próximo de 9% ao ano.

Apesar da taxa de vacância ainda elevada, os fundos de tijolo permanecem bastante descontados frente ao valor patrimonial, o que representa oportunidade de valorização. Com recuperação mais robusta do setor de serviços, espera-se que a defasagem dos contratos de aluguel em relação à inflação seja diminuída, o que impulsionará o volume distribuído em proventos. Para os fundos de papeis, apesar do baixo potencial de ganho de capital, uma vez que já negociam próximos do valor patrimonial, a remuneração da carteira deve gerar também dividendos robustos, além da correção pela inflação que deve seguir alta em 2022.


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